por Henrique Fernandes » quinta abr 12, 2012 8:52 am
Começo por pedir autorização para abordar assuntos “internos” de uma federação, invocando o facto de a mesma se arvorar, sistematicamente, em defensora do interesse público. Logo, o que é público é discutível.
Companheira Teresa Paiva:
Claro que a companheira tem razão quando afirma que não se pode responsabilizar toda a FCMP pelas posições radicais, diria mesmo, ilegais, defendidas por alguns (ou por algum) dos seus associados.
Mas há três aspetos sobre os quais convém refletirmos.
O primeiro é que há certamente mais quem pense assim no seio da FCMP, só que não o diz publicamente…
O segundo é que, das 500 associadas que referiu, a grande maioria não será a favor nem contra o que quer que seja, porque simplesmente não consideram ter nada a ver com o assunto do autocaravanismo. Ou pertencem ao pedestrianismo, ou ao montanhismo, ou a áreas desportivas, ou a muitas outras coisas que aqui não vamos discutir. É capaz de haver para aí umas 490 associadas da FCMP que, pura e simplesmente, acham que não têm sequer de ter opinião sobre o assunto. Restam umas 10…
O terceiro aspeto relaciona-se com alguma “evolução oficial” da FCMP, reconheça-se, relativamente às questões do autocaravanismo, como bem afirmou a Teresa Paiva, desde Maio de 2010.
Isso aconteceu, nomeadamente, através da subscrição de uma declaração de princípios que, com algumas pequenas alterações, também eu assinaria sem dificuldade. Mas não esqueçamos, e corrijam-me se eu estiver equivocado, que apesar de outras organizações que gravitam na órbita relacional da FCMP também terem aceitado essa declaração de princípios (por exemplo, a AECAMP?), continuam a surgir, de vez em quando, declarações avulsas de pessoas que as integram ou que com elas de alguma forma se relacionam. Sempre para voltarem às mesmas posições retrógradas e “obrigacionistas”! É caso para perguntarmos então o que vale afinal, no seio da FCMP, o ato formal de aceitação da referida declaração de princípios…
Isto remete para a contradição, dentro da própria FCMP, entre forças que já perceberam que os tempos e as circunstâncias estão a mudar e outras que resistem, pura e simplesmente - na minha opinião de forma inútil e grotescamente estúpida - às novas realidades. É, no fundo, a dialética interna entre aqueles que olham, no seio da FCMP, para a adaptação como meio de sobrevivência e aqueles que olham para a sobrevivência como meio de adaptação!
Foi - mais uma vez apenas na minha humilde opinião - neste contexto que uma FCMP com duas caras cometeu o erro capital de abrir uma guerra formal (diga-se, judicial) com a recém criada FPA.
É que não passa de uma questão de fé pretender-se que é a FCMP a única representante do autocaravanismo!
Isto é tão ridículo como se os primeiros cristãos, só porque foram um dia os primeiros, viessem agora pretender que só eles representam o ideário de Cristo. Não haveria, ao abrigo dessa lógica abafadora e do “primeiro a chegar”, lugar, por exemplo, para a existência da fé protestante, surgida após a Reforma dos idos de 1520. Ou, na mesma linha de pensamento, como se os judeus, por terem sido os primeiros monoteístas, quisessem agora objetar à evolução histórica ou à legitimidade de outros monoteísmos, como o cristianismo ou o islamismo…
E é aí que a FPA e a FCMP são totalmente diferentes. A FPA reconhece implicitamente e à partida que há um autocaravanismo que, por assentar na vertente campista, nunca poderá nem quer representar. Mas a FCMP acha, ao contrário, que representa esse e todos os outros autocaravanismos que existam (ou que um dia venham a existir…), incluindo aqueles que jamais passarão pelo campismo! Eu acho isto muito pouco inteligente e, por isso, condenado ao fracasso.
Depois não se admirem que continuem a surgir, dentro da FCMP, arrufos de intolerância e de “obrigacionismo” campista. Acredito que eles só desaparecerão no dia em que a FCMP, em primeiro lugar, começar por reconhecer e respeitar a FPA como interlocutora entre muitos e, em segundo lugar, começar a atuar institucionalmente (seja disciplinarmente ou de outra forma que considere adequada) contra aqueles que, no seu seio, assumindo tais políticas radicais, ilegais e insustentáveis, torpedeiem mediaticamente a própria estratégia “oficial” e “maioritária” (porque, como sugere a Teresa Paiva, é ou foi democraticamente sufragada ou aceite pela grande maioria dos associados da FCMP) consagrada na "alegada" aceitação pela FCMP de uma determinada declaração de princípios. Isto independentemente da maior ou menor “perfeição” que cada um de nós queira atribuir a tal declaração.
Relativamente à posição do CCL, é de louvar! Revela sobretudo inteligência estratégica, qualidade de que alguns autocaravanistas, felizmente poucos, e um maior número de “campistas”, parecem por vezes totalmente desprovidos. Quantas mais AS forem criadas fora dos parques de campismo, melhor para os interesses económicos (legítimos) de tal negócio (o campismo…), pois maior será a possibilidade psicológica de adesão geral da população a uma qualquer forma de autocaravanismo e, por essa via, maior será a probabilidade de alguns desses prováveis novos autocaravanistas virem, nem que seja de vez em quando, a recorrer aos parques de campismo.