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Sentidos do Douro

2 a 5 de Outubro de 2009

Para descrevermos este VIII Encontro CampingCar Portugal, baseámo-nos no relato do companheiro Haddock, registado com especial mestria no seu blog Haddock on the road.

2 de Outubro

A 2 de Outubro seguimos para Lamego para nos incorporarmos no grupo dos participantes do VIII Encontro do CampingCar Portugal. Devo confessar que íamos um pouco receosos porque sabíamos que se ia reunir um grupo bastante grande e porque a nossa única experiência de reunião autocaravanista alargada fora bastante frustrante. Chegámos ao local de reunião, o novo recinto para feiras de Lamego, gentilmente cedido pela municipalidade; já ali se encontravam alguns companheiros e ao longo da tarde continuaram a chegar e a chegar e a chegar! 58 autocaravanas num total de 136 participantes! E que boa disposição e que convivialidade e que facilidade em integrar os mais novos nestas lides.


3 de Outubro

De acordo com o programa, briefing às 0830 horas. E aí, começou o Show!!! Paulo e Cristina Rosa, Fernando e Sandra Luís vocês suplantaram tudo o que seria expectável. Não acredito que organizadores de eventos profissionais chegassem ao vosso nível e, mesmo que chegassem do ponto de vista técnico, nunca vos poderiam igualar em empenhamento e, especialmente, em simpatia. É também justo sublinhar o comportamento de TODOS os participantes: não houve atrasos (e nós sabemos como a pontualidade não é uma das qualidades marcantes dos portugueses), não houve tentações de auto-campismo, as visitas e as deslocações foram feitas de maneira super civilizada, funcionou a entre ajuda e a simpatia entre participantes.

Sé de Lamego

Sé de Lamego

Sé de Lamego – Nasceu antes da fundação da Nacionalidade, mas o edifício, tal como o conhecemos hoje, é fruto de uma construção posterior, no século XII. É uma construção românica, até à altura dos sinos (séc. XII-XIII), possuindo frestas interessantes do mesmo período, com especial destaque para a notável fresta que se abre do lado nascente. A parte cimeira é já obra do séc. XVI, da iniciativa do bispo D. Manuel de Noronha que ali deixou gravada a sua pedra de armas. A Torre serviu de cadeia por muito tempo, até que o Bispo D. Frei Feliciano de Nossa Senhora resolveu retirar o cárcere, tenebroso, que mais parecia sepultura de mortos (Azevedo, 1877). [1]

Museu de Lamego

Museu de Lamego

Museu de Lamego – Divididos, pelos cuidados da organização, em três grupos para as visitas culturais e turísticas e em quatro para as deslocações em autocaravana, lá demos inicio à visita guiada à cidade de Lamego. Visita à Catedral, ao Museu e subida ao Santuário de Nª Sr.ª dos Remédios em Comboio Turístico (o "comboio estrambólico" cujo pândego condutor se revelou poeta, cantor e animador). O Museu foi para nós uma descoberta interessante, possuindo algumas peças únicas tais como as tapeçarias flamengas e as telas de Grão Vasco que incitam a visita mais vagarosa no futuro. É esta uma das mais valias destes encontros: o encontro de pistas a explorar mais tarde.

A característica mais notória da colecção do Museu de Lamego é, sem dúvida, o seu eclectismo, à semelhança do que sucede na maioria dos museus coevos. O espólio primitivo de mobiliário, tapeçarias, escultura e pintura, que já se encontrava no Paço, foi complementado com ourivesaria, paramentaria, capelas e respectivas esculturas provenientes do extinto Convento das Chagas de Lamego, a que se acrescentou o acervo arqueológico que a Câmara Municipal e particulares cederam ao museu. Cronologicamente e do ponto de vista estilístico, esta colecção situa-se maioritariamente no século XVIII, sem prejuízo de, no seu todo, abranger um largo período que vai do século I aos nossos dias, com evidente realce para o período renascentista, onde as tapeçarias flamengas e a pintura de Vasco Fernandes assumem o estatuto de ex-libris do Museu. O Museu de Lamego constitui uma importante referência artística e patrimonial no panorama regional, nacional, e mesmo internacional, pela excelência e singularidade de algumas das obras de arte que expõe, possuindo, actualmente, em regime de exposição permanente, secções de pintura (séculos XVI a XVIII); escultura (séculos XIII, XIV, XVII e XVIII), ourivesaria (séculos XV a XX), cerâmica e azulejaria (séculos XVI a XX), arqueologia (romana, medieval e barroca), capelas e altares (séculos XVII e XVIII), viaturas (séculos XVIII e XIX) e mobiliário (séculos XVII a XIX). [2]

Santuário de Nª Srª dos Remédios – O Santuário foi edificado no século XVIII, no cume do Monte de Santo Estêvão, em honra da Senhora dos Remédios, a quem o povo há muito prestava devoção.

No local onde foi erigida a capela-mor de Nossa Senhora dos Remédios existia uma pequena ermida, mandada construir pelo bispo D. Durando, em 1361, dedicada a Santo Estêvão.

Em 1568, o bispo de Lamego D. Manuel de Noronha autorizou a demolição da velha ermida e, no local onde actualmente se situa o Pátio dos Reis, mandou erguer outra sob invocação de Nossa Senhora dos Remédios. Esta capela acabou por ser também demolida para se erguer o actual Santuário, cuja primeira pedra foi assente em 1750, por iniciativa do cónego José Pinto Teixeira.

O edifício do Santuário é uma construção em estilo barroco toda trabalhada em granito, deslumbrando pela elegância do estilo, imposta pela criatividade do autor do projecto que se acredita ter sido Nicolau Nasoni. [1]

Almoço livre e despedida de Lamego. Momento para apreciar as comidas típicas nos restaurantes e pastelarias locais. Destacamos a "bôla" e o "cabrito assado no forno". A zona envolvente da Sé tem uma óptima oferta gastronómica a preços razoáveis. As vendedoras de uvas do Douro aproveitaram este grupo, de dimensão invulgar, para mostrarem os seus produtos, aos quais os participantes do encontro não deixaram de aderir.

Depois do almoço livre, partida em quatro grupos de autocaravanas para Peso da Régua. Instalação no parque de estacionamento junto ao rio expressamente reservado para nós pela autarquia.

Visita guiada à cidade com guia fornecido pela autarquia (Prof. António Manuel) e visita ao Museu do Douro.

Após a visita ao Museu do Douro, onde foram apreciadas, entre outras, a exposição "O Universo de RAFAEL BORDALO PINHEIRO – CARICATURA e CERÂMICA", foi hora de relax no magnífico bar do Museu, ao ar livre e sobre a esplêndida paisagem do Rio Douro.

À noite, Jantar Convívio no Restaurante O Torrão; e que convívio. Para além da qualidade geral da refeição servida imperou o ambiente de cordialidade.

Não faltaram as brincadeiras e um pezinho de dança... Joaquim, Carlos, Silvério, Neto e Fernando... a "mesa do canto" estava imparável!!


4 de Outubro

Cedo erguer e pequena caminhada até à Estação de Comboios de Peso da Régua para embarque em direcção ao Pocinho. O grupo acena para foto, para mais tarde recordar todos estes amigos.

Chegados à estação do Pocinho, esperava-nos um autocarro que nos conduziu ao ancoradouro, onde tomámos o luxuoso barco "Tomaz do Douro". Serviço de almoço durante a descida do rio, com as suas paisagens magníficas.

Falar do Douro, não é apenas falar de um rio ou de uma região. É muito mais do que isso... é falar toda a sua história e das suas gentes, que o tornam tão especial. Conhecer o Douro não é apenas visitar a região, é partir numa viagem à descoberta de um lugar único, com uma história, cultura e pessoas únicas. Existem várias explicações para a origem do nome "Douro". Uma lenda conta que era costume ver-se rolar umas pedritas pequenas e brilhantes, que se veio a descobrir serem de ouro. Há quem diga ainda que o nome se deve à cor barrenta das águas do rio, consequência das grandes quantidades de detritos que as enxurradas arrastavam encostas abaixo e que por serem de um amarelo vivo lhe davam uma cor de ouro. Mas há ainda quem defenda que este nome deriva do latim Durius, ou seja, Duro, devido à dureza dos seus contornos tortuosos de escarpas altas e rochosas. [3]

Foi este rio, em tempos muito estreito e perigoso, que trouxe prosperidade à região, visto que era através dele que se fazia o transporte do precioso néctar, o Vinho do Porto. Em séculos passados este rio representava um desafio e um perigo para os que nele navegavam. Estava repleto de fortíssimas correntes e pedras meias submersas. Nessa altura, apenas um pequeno barco de madeira – o Rabelo – conseguia navegar nestas águas e fazer o transporte do vinho desde o Vale do Douro até à foz, em cujas margens se situam as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. [3]

O ultrapassar das eclusas é um dos momentos marcantes das viagens no rio Douro. As embarcações permanecem aqui durante algum tempo paradas (em média de 20 a 30 minutos). Uma estranha sensação de sufocar assola uma boa parte dos visitantes ante a imensidão das paredes de betão, enquanto lentamente é vencida a diferença do desnível das águas a montante e a jusante das barragens.

De volta a Peso da Régua após um magnífico dia de passeio, divertimento e paisagens de sonho.

É o que acontece quando se ganha um presunto "Pata Negra" vindo de Don Benito (Espanha), pela mão dos nossos amigos Inma e José. Muchas Gracias!!

O final deste Domingo foi aproveitado para descansar de um dia cheio de emoções. Alguns aproveitaram para degustar os petiscos disponíveis nos restaurantes da zona ribeirinha do Peso da Régua; outros ficaram no sossego da sua confortável autocaravana, enquanto começavam a cair as primeiras gotas de chuva.


5 de Outubro

Este dia iniciou-se com mais uma deslocação em autocaravana, desta vez para Murça. Saímos de Peso da Régua organizados em grupos, tal como já se tinha tornado habitual.

Em Murça, apenas chegados e estacionados no local previsto pela autarquia, iniciaram-se as visitas: ao Centro Interpretativo de Crasto de Palheiros, à Cooperativa de Produtores de Azeite, à Adega Cooperativa Regional e à Vila de Murça.

A nossa Guia conduziu o 1º Grupo pelas ruas de Murça, muito tranquilas pois era Feriado Nacional. Destaca-se a zona central da vila, onde está imortalizada a famosa Porca de Murça, o Pelourinho e a Igreja Matriz. O 2º Grupo efectuou a visita ao Centro Interpretativo de Crasto de Palheiros, tendo como Guia o Prof. José Maria Cardoso.

A História deste concelho é uma longa viagem que começa há muitas centenas de milhares de anos no paleolítico (vestígios com cerca de 500.000 anos encontrados em Noura). Desde essa época, o seu território foi provavelmente povoado de forma contínua, pois muitos são os indícios de diferentes períodos de ocupação. [4]

Com D. Sancho I chegam as primeiras cartas de povoação a esta região (Murça recebe uma) e pouco depois aparecem aqui algumas "pequenas municipalizações" (Noura de Aila, Sobreira, Carva, Murça).A No tempo de D. Sancho II são atribuídos os primeiros forais (Carva, Noura e Murça), não pelo rei, mas em seu nome e contra a lei. D. Afonso III confirma-os, o que não acontece com D. Dinis que os revoga, para em seguida conceder foral a Murça, que seria renovado por D. Manuel. No tempo de D. João III, o actual concelho de Murça contava com 309 fogos, mas nessa época nem todas as actuais freguesias lhe pertenciam: Carva e Vilares pertenciam a Jales e Jou a Águas Revés. O concelho só adquiriria a actual configuração pelos finais do século XIX, depois de receber Carva e Vilares, em 1853 e acolher Jou em 1895, vinda de Valpaços que a tinha recebido pela extinção de Carrazedo de Montenegro. [4]

A Capela da Misericórdia destaca-se na envolvência urbana pela cenográfica fachada barroca, profusamente decorada. O interior mostra-nos algo diferente, mas muito bonito. a nave única apresenta abóbada pintada a fresco (onde se distingue a figura do Rei David), púlpito, e cadeirais de madeira para os mesários, com espaldar esculpido e pintado. Uma relíquia que merece todos os esforços para a sua conservação!

A Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça mostrou-nos as suas modernas instalações e partilhou connosco a sua motivação para a procura constante de altos padrões de qualidade nos seus produtos.

Depois desta visita, em que fomos gentilmente convidados a efectuar a prova de azeites, adquirimos alguns exemplares dos mesmos e seguimos em autocarro para a as Caves de Murça. Foram explicadas as técnicas se a arte subjacentes à produção dos seus vinhos, em que se destaca o Vinho do Porto (hummm!!).

Foi hora de seguirmos até ao Restaurante Borges onde finalmente acabámos por almoçar cerca das duas da tarde.

Durante a tarde, e porque era dia de regresso, foi efectuada a título opcional a visita ao Centro Interpretativo do Crasto de Palheiros.

O Crasto é um enorme monumento que segue de perto o engenho, a persistência e a força de viver em comunidades sem organização estatal, das populações que aqui nos precederam entre cerca de 3000 A.C. e o início do séc. II D.C. Não parece ter tido sempre as mesmas funções específicas durante a Pré-história nem durante a Proto-história pois estranho seria que assim acontecesse durante mais de 3 mil anos! Este lugar atravessou o tempo, acompanhou diferentes gerações, diferentes modos de vida e as diferentes populações indígenas que aqui habitaram integraram-se em regimes políticos sem Estado, embora a sua organização política e social seja difícil caracterizar em pormenor.

Foi entre cerca de 3000 e 1800 A.C. que se foi construindo, alterando e selando este complexo Monumento que testemunha a complexidade da organização politica e social das comunidades regionais, agro-pastoris, durante o 3º milénio A.C. [5]

Chegados ao final deste nosso VIII Encontro, sentimos a satisfação de ter tudo corrido da melhor forma e o bom tempo ter contrariado as previsões. Agora é recuperar forças e pensar no próximo...

Muito obrigado a todos pela sua participação, e por terem contribuído para a imagem do autocaravanismo ter saído reforçada nas localidades visitadas.

Até breve, tendo sempre em mente o Saber Viajar em Autocaravana!


Agradecimentos

Referências